
O Complexo Pediátrico Arlinda Marques, unidade do Governo do Estadoem João Pessoa, registrou, nessa quinta-feira (21), mais um marco histórico com a realização de uma cirurgia inédita de um caso raro de escoliose idiopática de alto grau de complexidade. O procedimento durou mais de sete horas, com a mobilização de uma equipe multidisciplinar, e beneficiou um adolescente de 14 anos. A Técnica chamada “Liepo” é pioneira na Paraíba e representa o avanço do tratamento para deformidades da coluna vertebral na unidade pediátrica, principal referência na assistência especializada à saúde infantil na rede estadual.
Diagnosticado ainda muito pequeno com escoliose severa, o adolescente Luiz Henrique Rodrigues, desde os dois anos e meio até os 10 anos de idade, usou colete ortopédico diariamente, na tentativa de controlar a progressão da deformidade. No entanto, somente uma cirurgia complexa poderia corrigir o problema. A mãe dele, Ana Cristina da Silva, 54 anos, relembra a trajetória com emoção.
“Eu esperei todos esses anos com paciência porque sabia que ele precisava crescer para poder passar pela cirurgia. Quando soube que, aqui no Arlinda Marques, oferecia esse tipo de tratamento, procurei o serviço. Fiz todos os trâmites e, no início deste ano, recebi uma ligação dizendo que meu filho foi contemplado. Fizemos os exames necessários e agora ele está sendo muito bem acompanhado”, lembrou Ana.
Devido à gravidade da escoliose, a equipe médica optou por realizar o procedimento em duas etapas, separadas por 15 dias de intervalo entre o primeiro e o segundo procedimento. A rigidez da coluna da criança era tão severa que o procedimento tradicional, com colocação de parafusos e hastes, não seria suficiente para realinhar a coluna adequadamente.
De acordo com o neurocirurgião Bartolomeu Fragoso, a equipe optou pela técnica “Liepo” que permite a liberação óssea e possibilita o realinhamento da coluna de forma eficaz. “O uso dessa técnica foi essencial para o sucesso da cirurgia, possibilitando um resultado que não seria alcançado pelos métodos convencionais”, ressaltou o médico.
Por se tratar de uma técnica cirúrgica altamente complexa, o procedimento exigiu não apenas habilidade técnica, mas também grande preparo anestésico e de suporte intensivo. É o que explica o médico anestesista Arlley Araújo, que acompanha o caso desde o início.
“A operação envolveu a correção progressiva da coluna por meio de instrumentação e fixação de vértebras, um processo que reduz o desvio e garante alinhamento adequado. Por conta da extensão desse tipo de procedimento, a opção pelo fracionamento em duas etapas foi essencial para garantir maior segurança e reduzir riscos de complicações”, explicou o anestesista.
O diretor-geral da unidade, Daniel Gonçalves, destacou que toda a estrutura hospitalar foi mobilizada desde as primeiras horas da manhã. Segundo ele, enfermeiros, anestesistas, fisioterapeutas e cirurgiões trabalharam em sincronia para oferecer ao paciente a melhor assistência possível.
“O time de cirurgia de coluna contou com a participação de dois especialistas da unidade e, reforçando ainda mais a qualidade do atendimento, recebeu o apoio do médico e professor convidado de Belo Horizonte, Marcos Antônio, que é referência na área. Com esse procedimento, ampliamos a nossa assistência especializada e demonstramos, na prática, o nosso compromisso em oferecer um atendimento mais qualificado e humanizado às crianças do nosso estado”, pontuou Daniel.
A mobilização da equipe multidisciplinar contou ainda com os médicos Francisco Moura Neto (neurocirurgião) e Cleia Campos (neurofisiologista), além da coordenadora de enfermagem Chiara Luana; da enfermeira Patrícia Galbino e das técnicas de enfermagem Thaise Gomes e Vera Bento, e da instrumentista Jadielma Santana.
Pós-operatório e recuperação
O paciente seguirá acompanhado durante o pós-operatório, período que exige cuidados intensivos e acompanhamento multidisciplinar para garantir uma boa recuperação. No Arlinda Marques, o processo de reabilitação começa já na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com sessões iniciais de fisioterapia e um rígido controle da dor, prevenindo complicações respiratórias e oferecendo conforto ao paciente.
Em média, crianças submetidas a esse tipo de procedimento recebem alta entre três e quatro dias após a cirurgia, dando início a um acompanhamento ambulatorial contínuo que garante a consolidação dos resultados e a adaptação à nova condição física.
Avanço histórico
Para dar conta de casos como o de Luiz Henrique, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) ampliou significativamente a capacidade de atendimento no Complexo Pediátrico Arlinda Marques. Atualmente, são realizadas cerca de oito cirurgias de coluna por mês, quatro vezes mais do que no passado, quando o número era de apenas duas. Esse crescimento reflete o investimento do Governo do Estado em reduzir filas e oferecer dignidade a crianças e adolescentes que antes conviviam com dor, dificuldades de locomoção e até com preconceito social.
A inovação na assistência especializada também reafirma o Arlinda Marques como referência em saúde pediátrica de alta complexidade na Paraíba, unindo tecnologia, dedicação profissional e sensibilidade humana para seguir transformando vidas.




