Hoje, 19 de maio, é comemorado o Dia Mundial da doação de Leite Humano que tem como objetivo estimular a doação de leite humano, promover debates sobre a importância do aleitamento materno e da doação de leite humano. A prática do aleitamento está relacionada a inúmeros benefícios, uma vez que o leite materno tem todos os nutrientes de que o bebê precisa até os seis meses de vida, protegendo-o contra doenças.
Em Marabá, dentro do Hospital Materno Infantil (HMI) existe um banco de leite para fornecer esse alimento tão rico aos cerca de 300 bebês prematuros que precisam ficar internados na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) por mês. A busca é feita pelas técnicas e enfermeiras dentro da própria maternidade junto às mães que ainda estão amamentando e possuem excedente desse leite. É realizada uma entrevista, um cadastro, dadas as orientações necessárias e essa mãe começa a doar seu leite para o banco.
A nutricionista e responsável técnica pelo setor desde 2013, Lígia Viana, explica que a equipe faz todo o acompanhamento com essas mães no momento da visita e observam se ela tem capacidade de ser uma doadora.
“A mãe tem que ser saudável e o bebê tem que estar mamando exclusivamente no peito e, nesse caso, perceber se realmente ela está fazendo o posicionamento correto, se esse bebê tá mamando o suficiente pra nutri-lo e ganhar peso e paralelo a isso, nós solicitamos que ela faça essa doação do que sobra pra que nós possamos usar aqui com a maternidade”, pontua.
Quando a mãe faz o cadastro, é feita a coleta de sangue para verificar sua saúde e se estiver tudo bem, ela recebe um kit de doação com frascos estéreis e passa a fazer essa doação. Depois que a mãe tem alta do hospital, ela pode continuar doando de casa e o carro do banco de leite passa em cada casa uma vez por semana para recolher os frascos cheios.
“Ela vai colocando esse leite no frasco à medida que ela vai tirando ali, aos poucos. Ela pode fazer uma ordenha manual ou com a bomba de sucção, mas precisa fazer uma boa higiene na mama, sem uso de nenhum tipo de detergente, sabão ou hidratante. Ela vai fazer a coleta no recipiente que recebe e imediatamente após essa coleta precisa colocar esse leite no congelador a uma temperatura de congelamento, porque ele precisa estar congelado pra que não haja alteração na acidez do leite. Ela coloca numa fita a identificação com o nome dela e a data que fez essa coleta”, declara Lígia.
Dentro do banco de leite existe todo um protocolo a ser seguido e que é determinado pela Rede Global de Bancos de Leite. Todo leite materno que dá entrada no banco de leite, recebe um código com nome da mãe, data do parto e outros dados, e que pode ser rastreado. Esse leite pode ficar 15 dias congelado, sendo que dentro desse tempo, ele tem que passar pela troca de frasco, controle de qualidade que inclui análise sensorial, controle físico-químico e microbiológico e pasteurização. O processo todo demora cerca de quatro horas.
Depois esse leite vai para uma estufa com temperatura de 37 graus e a primeira leitura microbiológica é feita com 24 horas e a segunda leitura com 48 horas. Se não tiver nenhuma anomalia e os exames da mãe estiverem bons, o leite é liberado para a alimentação dos bebês da UCI neonatal. O prazo de validade desse leite que está congelado e liberado para consumo é de seis meses.
Ligia ressalta que no momento da administração, o leite só pode ser transportado dentro do hospital, de acordo com os protocolos da rede global de banco de leite.
“O transporte que fazemos é somente buscar em casa e precisa manter uma temperatura adequada para que esse bebê possa tomar um produto com qualidade. Então, a administração é somente feita dentro do hospital, diretamente com os bebês da UCI, porque eles têm prioridade”, argumenta a nutricionista.
Quem faz esse processo de descongelamento do leite, mede a quantidade que vai ser dada a cada bebê e leva para a UCI é a lactarista. Uma delas é Luzinete Fernandes, que faz isso com todo cuidado e atenção há mais de 10 anos.
“Tem a quantidade diferente para cada bebê e quem descreve é a nutricionista. Ela pega a dieta lá na UCI e a gente vem e etiqueta todas as seringas, conforme o que a nutricionista traz para nós. Uma por criança. O tempo de intervalo entre uma e outra depende da prescrição que vem de lá. Se for de três em três horas, duas em duas, seis em seis horas. A gente leva e quem dá para os bebês são os funcionários de lá mesmo”, ilustra.
Quem define a quantidade que cada bebê vai tomar é a nutricionista, que passa visitando cada leito e definindo a quantidade e que tipo de leite essa criança vai receber. Lígia comenta que isso depende da evolução de cada criança.
“Diariamente aumenta a quantidade da dieta para que satisfaça também a necessidade nutricional do bebê, porque com o passar dos dias dentro da UCI, ele vai tomando o leite, vai ganhando peso e depois, dependendo da evolução e ganho de peso, ele vai para a pediatria juntamente com a mãe dele. Ela já vai ficar internada junto com ele para poder fazer o processo da amamentação via mama mesmo, já não vai ser mais através de sonda”, demonstra a coordenadora do setor.
Rota do Leite
Para que esse leite doado pelas mulheres que amamentam em casa chegue ao Banco de Leite Humano do Hospital Materno Infantil, uma outra parte da equipe é essencial. Eles são a equipe da ‘Rota do Leite’. Quem faz esse trabalho é a técnica de nutrição Renata Alves juntamente com um motorista em um carro destinado exclusivamente para esse fim. Dentro desse carro eles levam uma caixa térmica com a temperatura ideal para coletar esse leite na casa das mães. Renata explica como funciona essa rota desde a saída do hospital até o retorno.
“A gente sai daqui com uma prancheta, com todas as mãezinhas que confirmaram que têm leite naquele dia. A rota é sempre na segunda e na quarta-feira pela manhã. Começa às oito e meia e termina até meio-dia, mas sempre dá tempo de passarmos em todas. Núcleo Cidade Nova é sempre na segunda-feira. A gente pega todo o núcleo Cidade Nova, após a ponte até o Jardim União. Bom Planalto, Jardim União, Infraero, Belo Horizonte, Filadélfia. Na quarta-feira a gente faz o mesmo processo com carro para o Núcleo Nova Marabá. Fazemos todas as Folhas, São Félix, Morada Nova, vamos até Murumuru”, enumera.
Quando a mãe doadora faz o cadastro, ela é adicionada ao grupo de WhatsApp, por onde obtém informações, orientações e confirma se tem leite para doar naquele dia.
“A gente coloca o informativo. Quem tem leite para segunda-feira, as que moram no núcleo Cidade Nova têm que confirmar se têm ou não, para não darmos viagem perdida, porque vai que uma mãe não tem, a gente tem que se deslocar daqui e chega lá não tem. Só saímos quando tiver tudo confirmado. Dois dias antes, colocamos no grupo e elas têm dois dias para responder se têm ou não. A gente sai com aquela relação de mãezinhas que têm, para ir até elas”, informa.
Na casa da doadora, Renata entrega a caixa térmica menor para ela colocar os frascos com leite e identificados com nome e data da coleta. Depois esses frascos são transferidos imediatamente para a caixa térmica maior que fica no carro.
Uma das mães que recebe a visita de Renata toda semana é a nutricionista Juliana Costa Barreto, que tem o Joaquim Miguel de seis meses e doa leite desde que ele nasceu. Ela teve o filho no HMI e ficou sabendo do banco de leite.
“Eu fiquei sabendo desse projeto, achei muito lindo e logo no início que eu tive leite já ordenhava, já colocava pra doação desde lá do materno. Eu compartilhei muitas histórias com algumas mãezinhas, então tive o privilégio e a graça de sair com meu bebê, saudável, e fiquei pensando muito nisso. Quando soube que tinha essa opção de dar, que tinha esse projeto de doação para essas crianças que estavam internadas, ou então mães que não têm, que não produziram, eu falei: Não posso deixar de doar, é um agradecimento, não é só uma ação solidária, é uma gratidão a Deus, é uma gratidão por tudo, poder compartilhar esse dom de alimentar”, justifica.
Foi a doula de Juliana que a incentivou a doar e passou o contato da Renata, que explicou tudo que ela precisava saber sobre a doação. “Nesse contato, me explicou, marcou comigo, tirou sangue pra fazer análise, veio e trouxe os frasquinhos. Explicou tudo direitinho, como funciona, armazenamento, higienização e eu fui só fazendo e vou continuar enquanto tiver”, enfatiza.
Juliana já chegou a doar até oito frascos em uma semana, mas como Joaquim está crescendo, a demanda dele aumentou também. “Quanto mais estimula, mais produz. É possível se tiver o compromisso e pensar que esse leite tem um propósito maior, que é para a nutrição dessas crianças que precisam, não é só a saúde física, mas é a saúde emocional também da criança, da mãe que está vendo o filho naquela condição e não tem e saber que tem alguém que pode, que está contribuindo, é um sentimento muito gratificante para a gente que faz a gente querer sempre mais e mais continuar”, explana.
Sobre doar, Juliana revela que o sentimento que a motivou foi a gratidão pela maternidade.
“Cada frasquinho desse que vai é um pedacinho da gente também e saber que isso vai fazer parte da vida de tantas crianças que precisam e vai ajudar a mães que estão precisando. Só pelo fato de você poder, vale a pena esse esforço. Você pode em gratidão a Deus por tudo que passou, se você tem um filho saudável, eu acho que é um dever compartilhar essa bênção, essa graça”, ilustra.
Saiba mais
O Banco de Leite Humano faz parte da rede global de Banco de Leite e é vinculado à Fiocruz. A coordenação estadual fica localizada na Santa Casa de Misericórdia do Pará.
O Banco de Leite Humano (BLH) do HMI começou em 2012 e a partir desse ano, começaram as estratégias de adaptação, as estratégias de captação de doadoras.
Segundo Lígia, ele precisa estar vinculado a uma maternidade, porque ele é um banco de leite.
“O banco de leite é diferente de posto de coleta. Posto de coleta só coleta e distribui, enquanto o Banco de Leite coleta, faz todo o procedimento de pasteurização, controle de qualidade, amostras microbiológicas e depois distribui também, então essa é a diferença de banco de leite para posto de coleta”.
Os equipamentos são fornecidos pela Fiocruz e pela Secretaria Municipal de Saúde e a mão de obra é totalmente treinada tanto pela rede como pela coordenação estadual.
“A gente vem trabalhando ao longo desses anos justamente na captação de doadoras e melhorias para que nós possamos ter todo um quadro funcional treinado, equipamentos adequados para que a gente possa dar toda essa garantia, porque nós trabalhamos com uma dieta para um público extremamente sensível, que são os bebês prematuros que nós atendemos aqui dentro do hospital, então esse leite tem que ter uma garantia total”, salienta.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Paulo Sérgio Santos
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