A Paraíba tem se consolidado como referência no atendimento às pessoas transexuais, garantindo o direito à saúde de forma digna e respeitosa. O estado dispõe de dois Ambulatórios de Saúde Integral para Travestis e Transexuais (Ambulatórios TTs), sendo um em João Pessoa e outro em Campina Grande, que oferecem um conjunto de serviços essenciais e desempenham um papel fundamental na promoção do bem-estar físico e mental da população trans. Em 2024, os Ambulatórios TTs realizaram mais de 8,3 mil atendimentos. Atualmente, 1.332 pessoas (entre homens e mulheres trans, travestis e pessoas não binárias) são atendidas nas duas unidades.
O porteiro Gean Pierre, 37 anos, é um dos usuários do Ambulatório TT ‘Fernanda Bevenuty’, que funciona no Complexo de Doenças Infectocontagiosas Clementino Fraga, em João Pessoa. Ele faz acompanhamento desde 2017, quando deu início ao processo de transição de gênero. Além dos cuidados especializados com médicos ginecologista, endocrinologista, psiquiatra, entre outros, Gean ressalta a realização da cirurgia de mastectomia (remoção da mama) como um dos principais serviços oferecidos pela unidade.
“Estou prestes a completar um ano de cirurgia e agora me sinto completamente realizado. Hoje, posso ir à praia e tirar a camisa sem receio, por causa dessa política pública que funciona aqui na Paraíba e que faz toda a diferença para gente que precisa do SUS”, destacou o porteiro, ressaltando que o próximo passo será a cirurgia de histerectomia (retirada do útero).
Ao todo, já foram realizadas, por meio do Programa Opera Paraíba, 102 cirurgias de mastectomia, além de 26 cirurgias de histerectomia e uma cirurgia de tireoplastia. Além disso, os usuários também têm direito à hormonioterapia. Em setembro do ano passado, a Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio da Gerência Executiva de Atenção à Saúde (Geas), iniciou a distribuição de medicamentos específicos para mulheres e homens trans, além de travestis, que passam por tratamento hormonal e não têm condições para arcar com as despesas.
De acordo com o coordenador do Ambulatório TT de João Pessoa, Sérgio Araújo, em todo o Nordeste, somente a Paraíba e Pernambuco oferecem hormônios gratuitamente para o processo de feminilização e masculinização de pessoas trans. “Os medicamentos são garantidos para todos os usuários cadastrados nos Ambulatórios TTs, desde que sigam o acompanhamento correto, com exames e consultas com o endocrinologista”, enfatizou Sérgio ao revelar que, neste ano, será instalada uma nova unidade no Sertão, ampliando o serviço para as três Macrorregiões de Saúde.
Todo o suporte que é oferecido tem contribuído para que a atendente de telemarketing Kylie Olívia Xeon, 28 anos, dê continuidade à transição de forma segura e saudável. Atendida pelo Ambulatório TT ‘Marcela Prado’, instalado no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, desde maio do ano passado, ela ressalta a importância do serviço para a sua autoestima e para sua qualidade de vida.
“Se eu não tivesse esse acompanhamento, definitivamente, a transição seria bem mais difícil, sobretudo, do ponto de vista clínico, já que as consultas com endócrinos são muito caras e eu não teria como custear isso por conta própria. Aqui, a gente tem tudo isso de graça e de forma muito mais digna e humanizada”, avaliou a jovem.
Para ter acesso aos serviços dos Ambulatórios TTs, o usuário deve, primeiramente, ter 18 anos de idade ou mais, comparecer ao Centro Estadual de Referência dos Direitos de LGBT (Espaço LGBT), apresentar RG, comprovante de residência, documento oficial com foto e cartão do SUS, e solicitar o encaminhamento para o atendimento. Após essa etapa, é feita uma ficha com os dados cadastrais do usuário, que será encaminhado para o serviço social, e, posteriormente, encaminhado para consultas especializadas de acordo com o seu perfil e sua necessidade.
Dia Nacional da Visibilidade da Trans - Celebrado no Brasil no dia 29 de janeiro, o Dia Nacional da Visibilidade Trans foi criado para promover a visibilidade e os direitos das pessoas transexuais, além de conscientizar a sociedade sobre as questões enfrentadas por essa população. É um momento de reflexão sobre a luta contra a discriminação, a violência e a marginalização que muitas pessoas trans ainda enfrentam. A data também é uma oportunidade para celebrar as conquistas e a diversidade dentro da comunidade trans, destacando a importância do respeito e da inclusão.