Foi criada a nova “Rede Pará de Estudos sobre Contas Regionais e Bioeconomia” que realizará estudos sobre a bioeconomia e o desenvolvimento socioeconômico, inclusivo e sustentável do Estado e de suas regiões. A assinatura do Termo de Cooperação Técnica (TCT) foi assinado nesta quarta-feira, 27, na Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), idealizadora do projeto e que tem a parceria da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A Rede objetiva construir um arcabouço de informações para cooperação entre pesquisadoras/es de instituições, a fim de estimular a bioeconomia do Pará, a partir de metodologias consolidadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para tanto, a nova Rede estabelece ações conjuntas que compreendem a magnitude da bioeconomia que o bioma Amazônico produz, por meio da elaboração de metodologias qualificadas, estimando valores que considerem as características da biodiversidade do bioma, a fim de identificar e mensurar as cadeias existentes no Estado.
Marcel do Nascimento Botelho (Diretor-Presidente Fapespa“Este estudo, iniciado em parceria com três das quatro universidades federais do Pará, é essencial para o monitoramento e avaliação dos impactos das iniciativas do governo estadual na promoção da bioeconomia. Ele permitirá entender como essas ações estão influenciando os diferentes setores da economia paraense, considerando a diversidade econômica e regional do Estado. Começamos com estudos regionais em Marabá há alguns anos, mas agora damos um passo significativo com uma rede que abrange todo o Pará. Isso possibilitará consolidar indicadores e dados em uma única plataforma, respeitando as diferenças econômicas entre regiões como Santarém, Marabá e Belém”, destacou durante a assinatura do Termo o presidente da Fapespa, Marcel Botelho.
Pesquisas -O projeto prevê a criação do Laboratório de Contas Regionais e Bioeconomia da Sociobiodiversidade da Amazônia, na UFPA, no qual atuarão equipes de pesquisa compostas por professores, mestrandos e graduandos, na coleta de dados, treinamento e divulgação de resultados, consolidando uma rede de pesquisa. O projeto terá duração de 36 meses, e utilizará a metodologia das Contas Sociais Ascendentes Alfa (CSA-Alfa) para estimar matrizes de insumo-produto e de Leontief para cadeias selecionadas de produtos da bioeconomia. Para isso, serão realizadas oficinas e cursos de capacitação para na metodologia das Contas Sociais Alfa, garantindo qualidade e rigor científico ao estudo.
Ambas são metodologias que permitem estimar a contribuição de diferentes setores da economia para o Produto Interno Bruto (PIB) e a geração de empregos. As Contas Sociais Ascendentes Alfa identificam um conjunto de setores, não captados na conta do PIB, como extrativismo vegetal, pesca artesanal, agricultura familiar, extrativismo sustentável e produção de bens e serviços a partir da biodiversidade. É uma forma desagregar o estudo e torná-lo específico, a fim de visualizar as relações entre os diferentes setores da economia e suas particularidades. Já a matriz de insumo produto e de Leontief formam um método matemático e estatístico úteis para um rigor científico.
COP 30 -Como o debate sobre emergência climática e as questões ambientais assumiram a centralidade das discussões sobre o ‘pensar o futuro’, em particular no âmbito da Amazônia, identificar a estrutura econômica, a partir de aspectos da bioeconomia torna-se fundamental, com destaque às suas manifestações na Amazônia que serão amplamente exploradas e debatidas durante a COP 30, a ocorrer em Belém em 2025.
Pioneira, a "Rede Pará" tem um grande potencial para o aprimoramento de políticas públicas, podendo indicar quais atividades convivem bem com o bioma, fortalecendo-as com incentivos. Também pode colaborar com o setor privado, destacando a viabilidade econômica de iniciativas não tão conhecidas. O projeto alinha-se, ainda, ao interesse global no combate às emergências climáticas e às agendas construídas a partir da COP 30, a conferência mundial sobre mudanças climáticas, em Belém.
“Entre os nossos objetivos com esse projeto, está a construção de um material para ser apresentado antes da COP 30, porque desta forma nós vamos estar trazendo os olhares científicos para o evento, através de indicadores da metodologia que vamos aplicar na prática e, dessa forma, termos um olhar especial pra economia dentro do nosso estado, dentro do nosso Brasil e talvez até pro nosso mundo.”, informou na oportunidade a responsável pelo projeto na Fapespa, Atyliana Dias, diretora de Estatística, Tecnologia e Gestão da Informação da Fapespa.
Cooperação -A cooperação entre Fapespa e as Universidades estabelece programas de cooperação técnica em ensino, pesquisa e extensão, em áreas de mútuo interesse, incluindo compartilhamento de dados e informações, desenvolvimento de projetos, estudos, pareceres técnicos, relatórios, boletins e outros materiais (impressos e digitais), de forma integrada e de acordo com a natureza e os objetivos formais das instituições. Prevê, ainda, a realização de eventos em conjunto, visando produzir e dar publicidade às informações e aos conteúdos construídos por meio do Termo, para gestores públicos, empreendedores da região e toda a sociedade.
“A nossa compreensão de bionomia é justamente a economia da sociobiodiversidade. É a economia que convive bem com a floresta e que estimula a floresta em pé porque é assim que ela é mais rentável. Portanto, além de aplicar metodologias consolidadas, o grupo de pesquisadores irá propor técnicas inovadoras para identificar parcelas não visíveis da bioeconomia, ampliando a compreensão do setor e destacando sua complexidade e potencial”, disse durante a assinatura do Termo, o representante da Unifespa, Gilliad Silva, doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vice-diretor de Economia e professor do mestrado em Planejamento da Unifesspa, e coordenador do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam).
O professor detalha que a bioeconomia é a agregação de atividades econômicas, agentes e sujeitos sociais, cujos insumos são oriundos de atividades econômicas/agentes/sujeitos sociais que convivem bem com o bioma, assim como seus produtos/serviços. Não basta ser do chamado setor primário, mas tem que pertencer a uma atividade econômica que não dependa da destruição do bioma para seu funcionamento. Outra característica é produzir agregações e estimativas desta dimensão da economia a partir de metodologias consolidadas, em nível nacional, via IBGE, e nível global, via ONU. Portanto, as informações produzidas pelas Universidades e a Fapespa terão a validade de dados públicos.
Desenvolvimento –O foco inicial da Rede será a cadeia produtiva do açaí, nas regiões de Integração Guajará, Guamá e Tocantins, com o objetivo de expandir a pesquisa para outros produtos da bioeconomia. A iniciativa também contribuirá para a formação de recursos humanos qualificados na área, fortalecendo a capacidade de pesquisa e inovação no Estado. A "Rede" deve mensurar o valor econômico do setor e entender sua dinâmica, seus gargalos e potencialidades. Dessa forma, espera-se que a pesquisa forneça subsídios para a formulação de políticas públicas mais eficazes e direcionadas ao desenvolvimento sustentável da bioeconomia no Pará.
Luiz Feijão“O nosso compromisso dentro da rede é ter a responsabilidade de desenvolver as pesquisas no Oeste do Pará para tentarmos compreender o tamanho dessas economias que emanam desses produtos. Uma segunda dimensão da nossa participação na rede, é estar junto com a UFPA e a Unifesspa interagindo para desenvolver certos pontos que são cruciais para entendermos a bioeconomia no Pará”, destacou na ocasião da assinatura o representante da Ufopa, professor Luiz Gonzaga Feijão.
Entre os ganhos também está prevista a identificação e a quantificação dos diversos setores e atividades que compõem a bioeconomia no Pará, revelando sua importância econômica e social. O estudo aprofundará o conhecimento sobre as cadeias produtivas da sociobiodiversidade, desde a produção até o consumo, identificando gargalos e oportunidades de melhoria.
Danilo Araújo Fernandes“Essa economia que produz preservando e conservando a biodiversidade existe na Amazônia e tem uma importância muito grande, mas é invisibilizada então a gente quer no primeiro momento mostrar qual é o tamanho dessa economia, como é que ela se estrutura e o nível de capacidade de imersão dela em termo de geração de ocupação, de trabalho, de produção de riqueza e etc.” , explicou o representante da UFPA, Danilo Araújo Fernandes, professor que atualmente trabalha com pesquisas em Bioeconomia, dinâmica agrária e políticas de desenvolvimento regional sustentável para a Amazônia. É Professor e pesquisador do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU-NAEA), do Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE) e do Programa de pós-graduação em Planejamento e Desenvolvimento Urbano e Regional (PPGPAM) da Universidade do sul e sudeste do Pará (Unifesspa).
Assim, entende-se que a atuação dos pesquisadores da Unifesspa, Ufopa e UFPA, organizada pela Fapespa, representa um passo fundamental para a mensuração detalhada e inovadora da bioeconomia amazônica, consolidando práticas existentes e propondo novas metodologias para ampliar o entendimento do setor. Portanto, espera-se que esta ação contribua para a formulação de políticas e estratégias que promovam o desenvolvimento sustentável na região amazônica, assim como identifique novas potencialidades econômicas para o setor privado.
“A expectativa é obter indicadores customizados e mais precisos, que auxiliem na tomada de decisão e na mensuração dos impactos dos bionegócios, desde o nível municipal até o estadual. Este avanço proporcionará dados mais atualizados, superando as limitações de estudos como o PIB, que têm defasagem de anos. A rede trará agilidade e profundidade para compreender os efeitos da bioeconomia na construção de um futuro sustentável”, avalia o presidente da Fapespa.