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Dia da Consciência Negra - Casas de cultura do Maranhão mantém acervo que preserva a história e o legado do povo negro no estado

Vamos conhecer melhor a Cafua das Mercês (ou Museu do Negro), o Museu Casa do Tambor de Crioula e o Museu do Reggae, que diariamente recebem centen...

20/11/2024 às 15h25
Por: Rede THAP de Comunicação Fonte: Secom Maranhão
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- Secom - Dia da Consciência Negra 2024 - Casas de cultura do Maranhão (Fotos: Handson Chagas, Gilson Teixeira, Júnior Foicinha)
- Secom - Dia da Consciência Negra 2024 - Casas de cultura do Maranhão (Fotos: Handson Chagas, Gilson Teixeira, Júnior Foicinha)

No dia 20 de novembro de 1695 morria o negro Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e uma das principais resistências ao regime escravocrata imposto durante o período do Brasil colônia. Em homenagem à trajetória de luta de Zumbi dos Palmares, o dia 20 de novembro foi instituído como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, data que a partir deste ano entrou para o calendário de feriados nacionais.

No Maranhão, o Dia da Consciência Negra resgata e celebra a história de vida e batalha do povo negro, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa quase 80% da população maranhense - somados os percentuais de pessoas que se autodeclaram negras ou pardas. Além das atividades comemorativas em alusão ao Dia da Consciência Negra, o Maranhão possui equipamentos culturais que, durante o ano inteiro, mantém suas portas abertas para referenciar e transmitir o legado do povo preto no estado.

Nesta reportagem, vamos falar sobre a Cafua das Mercês (ou Museu do Negro), o Museu Casa do Tambor de Crioula e o Museu do Reggae, três casas de cultura geridas pelo Governo do Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secma), que diariamente recebem centenas de visitantes e ajudam a contar um pouco das tradições, manifestações e hábitos que os negros fincaram ao longo da nossa história.

Para Neto de Azile, chefe do Departamento de Patrimônio Imaterial da Secma, os três equipamentos são símbolos de resistência cultural contra o racismo e preconceito no Maranhão. Azile avalia que, além da “proteção” de manifestações culturais de matriz africana, essas três casas têm papel de formação cultural sobre a memória do povo negro no Brasil.

“Uma das formas de combate e enfrentamento ao racismo é a valorização desta cultura importantíssima para a construção da identidade do povo brasileiro. Ali estão espaços de preservação e promoção da cultura preta. São espaços privilegiados, de letramento racial positivo no combate à discriminação e ao preconceito. Esses espaços protegem a nossa história, a nossa memória, valorizando os atores que construíram o jeito de ser e viver do brasileiro”, ressalta Azile.

Conheça um pouco sobre cada uma dessas três casas de cultura:

Cafua das Mercês (Museu do Negro)

Localizada na Rua Jacinto Maia, 54, bairro Praia Grande, em São Luís, a Cafua das Mercês (também conhecida como Museu do Negro) é um espaço cultural destinado a preservação da memória da forte presença da cultura afro no Maranhão. No local, o público se depara com instrumentos do período da escravidão, objetos da cultura afromaranhense - sobretudo do Tambor de Mina (como indumentárias, acessórios e instrumentos musicais utilizados em rituais religiosos), além de uma valiosa coleção de arte africana proveniente de diversas regiões e etnias da África, a exemplo de grupos culturais como Bambara, Dogon, Senufo e outros.

O prédio das Cafua das Mercês abrigou no passado um antigo depósito de escravos, construído no século XVIII para receber os negros africanos que vinham da África, para ali serem comercializados. Construído em estilo colonial, de fachada uniforme, contendo apenas uma porta principal ladeada e encimada por seteiras centradas em nicho - essas eram as únicas aberturas de luz e ventilação do prédio -, o prédio da Cafua das Mercês, em si, já indica a dimensão da tirania da escravatura.

“Era um antigo empório de escravos, espaço de comércio e venda desse povo cativo no período escravocrata no Maranhão. Ali estão peças africanas, da cultura e da religiosidade”, sublinha Neto de Azile.

No pátio interno do museu, há um pátio revestido de cantaria e cercado por um alto muro de pedras onde existe um réplica de pelourinho, outrora existente no Largo do Carmo. A réplica do instrumento utilizado para castigar escravos foi executada com base em um desenho que consta no livro “O cativeiro”, do poeta e jornalista Dunshee Abranches (1867-1941).

A Cafua das Mercês funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h e está aberta à visitação pública sem necessidade de agendamento prévio, exceto para instituições escolares e grupos especiais.

Museu Casa do Tambor de Crioula

Inaugurado no dia 13 de julho de 2018, o Museu Casa do Tambor de Crioula está localizado na esquina entre as ruas Estrela e João Vital de Matos, no bairro Praia Grande, Centro Histórico de São Luís. O espaço abriga acervo específico sobre o tambor de crioula, manifestação de origem africana que mistura música, dança circular e percussividade única. O local abriu as portas 11 anos depois de a manifestação se tornar Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, em 2027.

“Quando a Casa do Tambor de Crioula é criada, ela tem o motivo de dar protagonismo aos fazedores, que são mestres e mestras, que é uma população preta, periférica, que vivia na invisibilidade, ainda sob a sola do racismo, que ainda é muito incidente. A Casa é uma importante ferramenta de combate ao racismo e de fortalecimento da cultura negra”, pontua Neto de Azile.

O Museu Casa do Tambor de Crioula também conta com área de convivência, salas para oficinas de dança e percussão, auditório e salão de exposição, além de uma lojinha para venda de produtos associados ao bem cultural. “O local é um centro de formação, informação e transmissão de conhecimento desses mestres, coreiros e coreiras detentores da cultura popular tambor de crioula”, destaca Neto de Azile.

Seja ao ar livre, em terreiros ou associado a outros eventos e manifestações, a prática do tambor de crioula é realizada sem local específico ou calendário pré-fixado. A manifestação pode ser encontrada em vários municípios maranhenses. Conduzida pelo ritmo intenso dos tambores e toadas evocadas pelos cantadores, a manifestação tem na ‘punga’ ou ‘umbigada’ um dos pontos altos da dança do tambor de crioula.

“É uma dança de base africana que hoje compõe o cenário nacional de manifestações ou bens culturais que identificam nossa brasilidade e a nossa 'maranhensidade', marcando aí a contribuição do povo negro para construção da identidade nacional”, frisa Azile.

O Museu Casa do Tambor de Crioula funciona de terça a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos, das 9h às 13h.

Museu do Reggae do Maranhão

Em um sobrado localizado na Rua da Estrela, Centro Histórico de São Luís, foi inaugurado em 2018 o Museu do Reggae do Maranhão, primeiro museu dedicado ao ritmo fora da Jamaica. O museu conta com cinco ambientes. Na Sala dos Imortais, o espaço homenageia grandes nomes do reggae maranhense. Nos outros quatro ambientes, o público pode conferir exposições em deferência a tradicionais clubes de reggae de São Luís: Clube Pop Som, Clube Toque de Amor, Clube União do BF e Clube Espaço Aberto.

No local, os visitantes também podem acessar discos raros, vídeos, fotos históricas, moda reggae ao longo do tempo, além de depoimentos gravados com personagens da cena reggae. Também compõem o acervo imaterial e digitalizado do museu, livros, artigos, teses e dissertações, na Biblioteca do Reggae, possibilitando a realização de pesquisas, além do café do museu, o Roots Café.

“O reggae, mesmo tendo nascido na Jamaica, hoje é também maranhense. No Maranhão o ritmo é elemento cultural que influencia a maneira de ser da população na maneira de falar, vestir e, em especial no jeito de dançar. É forte o impacto na cultura, no turismo e na economia do Estado”, ressalta Ademar Danilo, diretor do Museu do Reggae do Maranhão.

O Museu do Reggae do Maranhão guarda, ainda, relíquias como a primeira guitarra da banda maranhense Tribo de Jah, usada pela banda em mais de 20 países. Outra relíquia é a  radiola “Voz de Ouro Canarinho”, de Edmilson Tomé da Costa, mais conhecido como Serralheiro, um dos pioneiros do reggae no estado e disseminador do gênero musical nos anos de 1970.

“O reggae não é um ritmo qualquer. É na verdade, um veículo de mensagens de paz, amor e igualdade, de luta contra o racismo. O Museu do Reggae conta a história do ritmo nas terras maranhenses, estuda, preserva e celebra a cultura reggae. Também representa a resistência e a vitória do reggae contra o preconceito. O museu é uma das ferramentas da política antirracista do Governo do Maranhão”, frisa Ademar Danilo.

Prestes a alcançar a marca de 300 visitantes, o Museu do Reggae está aberto para visitação pública de terça-feira a sábado no horário das 9h às 18h e aos domingos das 9h às 13h. As visitas contam com a presença de monitores preparados para contar a história do acervo, com domínio da linguagem em libras, inglês e francês.

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