O segundo dia da etapa estadual do Ceará Científico 2023, realizado nesta quinta-feira (14), foi dedicado à exposição dos trabalhos desenvolvidos por jovens da rede estadual de ensino. A ação serviu para demonstrar que a prática da pesquisa está presente nas escolas públicas da educação básica cearense, promovendo a difusão do saber criterioso e metodológico, ao mesmo tempo em que apresenta respostas inovadoras às demandas geradas pela sociedade.
Aurélio Pereira, de 17 anos, cursa a 3ª série na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Paulo Barbosa Leite, em Caririaçu, onde também faz formação técnica em Informática. O estudante expôs o projeto “Trabalhando a interdisciplinaridade e o multiletramento a partir do uso do cordel na educação”, acompanhado do colega Vitor Nunes, de 16 anos, que faz a 2ª série naquela instituição. Ambos representaram uma turma de cerca de 30 estudantes. Os livretos, produzidos integralmente pelos próprios alunos, foram feitos a partir das fibras da planta aquática conhecida como papiro, num processo artesanal.
Aurélio argumenta que o cordel permite a abordagem diferenciada dos conteúdos vistos em sala, com a utilização de recursos comunicativos dinâmicos, que despertam o interesse dos jovens para o conhecimento. “Assim, é possível democratizar o ensino, por meio de histórias que envolvem a realidade, as questões locais e sociais dos estudantes. Com o cordel, é possível debater temas emergentes, como sustentabilidade, prevenção do aquecimento global e letramento racial”, exemplifica.
Vitor observa que o desenvolvimento do trabalho percorreu diversos campos do saber. “O próprio processo de produção da folha de papiro envolve química e biologia, na construção do cordel. Além disso, fizemos também um audiobook, para que pessoas com deficiência visual pudessem aproveitar a experiência”, finaliza. O trabalho concorreu na categoria “Linguagens e códigos”.
Na Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos, em Aratuba, as aulas de Biologia foram cenário para a redescoberta de espécies vegetais que, desde tempos ancestrais, vêm servindo de base para a alimentação das populações tradicionais da região. Fernanda Barroso, de 18 anos, aluna da 3ª série do Ensino Médio na instituição, lembra que o professor incentivou os estudantes a conhecerem as variedades de grãos usualmente cultivados na localidade. São vários os tipos de milho, feijão e fava, por exemplo.
“A diversidade das sementes demonstra a união das culturas indígena e quilombola de nosso povo. Muitos de nós não conhecíamos as sementes consumidas dentro do território, então o projeto buscou incentivar a comunicação entre os alunos, de forma com que cada um relatasse o que costumava consumir”, descreve Fernanda. Ao todo, a atividade identificou 140 espécies. Ao longo do desenvolvimento do projeto, um banco de sementes foi criado.
“Algumas linhagens estavam em falta, já entrando em extinção. A respeito dessas, mais difíceis de serem encontradas, o projeto vem impulsionando o seu cultivo”, complementa a aluna.
Edson da Silva, de 18 anos, também estudante daquela escola, observa que em termos biológicos, o plantio diversificado traz resultados positivos. “A riqueza genética obtida pela modificação dos grãos, através do cruzamento, faz com que as plantas se adequem ao clima e ao ambiente. Com isso, de forma natural, nós garantimos a nossa segurança alimentar e permanência no território”, avalia.
A multiplicidade de grãos também permite mais possibilidades para o consumo do alimento no preparo de receitas, conforme Fernanda. “O ‘milho massa’, por exemplo, é mais utilizado para fazer canjica, enquanto o ‘milho branco’ é consumido de forma cozida ou assada, e por sua vez o ‘milho vermelho’ é utilizado para fazer fubá e pão de milho”, aponta. O projeto concorreu na categoria de Ciências da Natureza e Engenharias.
José Juliardo, de 16 anos, é autista e cursa a 1ª série na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Dona Carlota Távora, em Araripe. O estudante, junto com a colega Giovana Rodrigues, apresentou o trabalho “Matmusic”, que favorece o aprendizado da matemática por meio da música. A dupla concorreu na categoria “Pessoa com Deficiência (PcD)”, com abordagem voltada à área da Matemática e suas Tecnologias.
A iniciativa, conforme José, surgiu nas aulas do componente eletivo de matemática básica, e levou em conta a dificuldade que alguns alunos apresentaram no acompanhamento da disciplina, sobretudo após o período da pandemia. “Muitos consideram a matemática difícil de aprender e ser aplicada. Esse método de ensino auxilia na fixação do conteúdo, pois a música traz um aspecto cultural que ajuda na memorização. Ao cantar uma paródia, acompanhando o ritmo e a letra, conseguimos auxiliar na recomposição de saberes. Como resultado disso, fortalecemos os laços entre os alunos e a escola e evitamos a evasão”, esclarece.
Giovana, de 15 anos, explica que a paródia ensina a aplicação da chamada função afim. A jovem canta um trecho da música para demonstrar. “Vou te dizer o dizer o que é função afim, você vai ver que o negócio é assim, X A de X + B é uma função de X, e o A não é 0, já ficou fácil pra mim. Então, dessa forma a gente vai juntando as funções à letra da paródia, demonstrando a reta linear (A e B), ajudando a memorizar as fórmulas e consequentemente a resolução dos exercícios”, conclui.
Na sexta-feira (15), a partir das 10h, haverá a entrega do Selo Escola Sustentável 2023 às unidades de ensino selecionadas para receber a comenda.
Também na sexta-feira, às 13h30, será realizada mais uma mesa-redonda, desta vez abordando o tema “Equidade de gênero e proteção à mulher”. Participam da conversa a professora e pesquisadora Luma Andrade, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab); a professora Dayane Costa, da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Presidente Roosevelt; a professora Tayane Soares, da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Belarmino Lins de Medeiros; e a estudante Lohana Liandro, da EEEP Joaquim Moreira de Sousa.
No mesmo dia, às 16h, será feita a cerimônia de encerramento e premiação dos vencedores do Ceará Científico 2023.
A mostra teve início na fase escolar, em que cada unidade de ensino realizou sua própria feira de ciências. Na sequência, os classificados foram para a fase regional, que aconteceu em cada uma das 20 Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação (Credes) e na Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor). Por último, é feita a etapa estadual, na capital, reunindo os vencedores do estágio anterior.
O Ceará Científico incentiva, desde 2016, a construção de projetos que promovam a integração dos componentes curriculares, enaltecendo a interdisciplinaridade. Além disso, a ação visa estimular parcerias entre instituições acadêmicas ou educacionais com as escolas e, ainda, promover o intercâmbio artístico, científico e cultural no âmbito escolar, comunitário e social.